Deus existe: de engraxate a doutor

Ele venceu a pobreza, a fome e buscou nos estudos a chance de mudar de vida. Conheça a história de Gil Lúcio Almeida, um ex-engraxate que com garra e força de vontade construiu uma carreira sólida como fisioterapeuta, professor, cientista, executivo e escritor.


O começo da história de Gil Lúcio Almeida, de 50 anos, pode ser igual a de muitos brasileiros, mas o desfecho é quase uma exceção. Nascido em Passos, Minas Gerais, em junho de 1960, ele viveu os primeiros anos na chácara da família, no Distrito de São João Batista da Glória. E as lembranças dessa época não são tão boas. “Conheci a fome durante a infância e por várias vezes lamentei a falta de presentes nos natais”, recorda. A família, constituída por pai, mãe e mais cinco irmãos, migrou para a cidade de Itaú de Minas, onde, aos 8 anos de idade, construiu sua primeira caixa de engraxate e passou a ajudar no sustento da casa. Aos 14 anos, a família mudou-se para São Carlos, interior de São Paulo, onde Almeida continuou estudando e trabalhando. Além de engraxate, ao longo da vida, ele desempenhou outras funções, como vendedor de frutas, verduras, servente de pedreiro e garçom.

O Doutor

O desejo de ser alguém, no entanto, sempre falou mais alto no coração do garoto, que se dedicava aos estudos com afinco. “Meu pai ficou órfão aos 5 anos de idade e minha mãe também era uma mulher simples. Eles trabalhavam na roça, não tinham estudos acadêmicos, mas tinham sabedoria e sempre souberam passar valores para os filhos”, conta.

E esses valores, permeados por muito trabalho e incentivo, fizeram a diferença na vida dele, que conseguia visualizar sonhos em meio a tanta pobreza. “Minha mãe sempre dizia que eu seria um doutor e imaginava a minha secretária recebendo meus pacientes”, relembra. Outro fator importante, segundo ele, foi como se sentia: “O meu segredo foi fazer das dificuldades e adversidades uma oportunidade de aprendizagem. Nunca lamentei a pobreza que o destino um dia me reservou e fui à luta em busca de meus objetivos.”

Em São Carlos, primeiro formou-se técnico em mecânica, depois em fisioterapia, e mestre pela Universidade Federal de São Carlos. “Aos 25 anos, fui trabalhar na Universidade de Campinas. Aos 28, consegui uma bolsa de estudo do Centro Nacional de Pesquisas (CNPq) e da Fundação Rotariana. fiz as malas e fui para Chicago. Aos 32 anos, tornei-me o primeiro fisioterapeuta brasileiro a obter a titulação máxima no sistema educacional norte-americano, o PhD, (o equivalente ao doutorado no Brasil). Aos 34, voltei ao Brasil trazendo na bagagem, além do PhD, o pós-doutorado”, comemora.

Indo além

Mas só o título de doutor era pouco para quem queria ir além. Em 2004, Gil Lúcio tornou-se presidente eleito do Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo. Foi reeleito em 2008 com a quase a totalidade dos votos. “Hoje, represento mais de 60 mil profissionais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, no Estado de São Paulo. Encontrei uma sede alugada e mofada, o que me fez lembrar do primeiro casebre que moramos. Fui para a Avenida Paulista, vi os prédios de vidro e pedi a Deus que me ajudasse a construir uma moradia digna de nossas profissões. Hoje, temos nove sedes próprias no Estado de São Paulo, incluindo um prédio de 12 andares no coração da Avenida Paulista. Temos um patrimônio de mais de 40 milhões de reais. Na vida acadêmica já formei quase duas dúzias de mestres e doutores na Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), e publico artigos nas principais revistas científicas em minha área. Sou abençoado também com uma família linda. Tenho 3 filhos (Gabriela 14, Bárbara 8 e João Marcos, 1 ano e 3 meses)”.

Para quem trilhou um caminho de dificuldades e incertezas, quais as características básicas para quem quer ser um vencedor? “Estar inconformado com a situação em que se vive e saber que pode ir longe demais, através do estudo e do trabalho. Nunca rejeitar qualquer forma de trabalho, por mais humilde que seja, porque é dele que aprendemos as principais habilidades e competências para exercer os trabalhos complexos.”

Além de todos esses trabalhos, o profissional dá palestras onde conta sua experiência de vida. “É muito bom poder compartilhar com outros a minha história. Tenho orgulho de minha origem e da forma honesta com que enfrentei a realidade. Gostaria que o meu exemplo de vida fosse uma fonte de inspiração para todos os que têm fé. Acho que o meu lado positivo foi não ter desperdiçado a dádiva da aprendizagem que o Criador me deu quando cheguei aqui. Ainda tenho várias pontes para cruzar, mas posso dizer que já venci várias barreiras”, conclui Gil Lúcio Almeida, que também é autor do Livro “O Engraxate que virou PhD”.

Fonte: Arca Universal

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